Ona Vitkus é uma senhora destemida. Não que todo mundo vá
gostar do jeito que ela trata algumas pessoas, mas certamente quem a conhece
por completo vai gostar do seu jeito. As pessoas tem o costume de tratar os
idosos de uma forma como se fossem peças frágeis e complicadas e Ona, uma
senhora com 104 anos é uma destas peças, mas nem um tanto frágil assim.
A ideia do chefe dos escoteiros, Ted, é de que os seus
meninos sempre ajudem a outras pessoas. E então um menino pequenino, franzino
demais e tímido demais ficou incumbido de todos os sábados ir até a casa da
senhora e cuidar das coisas que ela precisava. Aquele menino de onze anos era
alguém que adorava os recordes. Amava pássaros como ninguém e fazia tudo com
muita meticulosidade. Ona Vitkus aprendeu a gostar do menino e a conhecer o seu
mundo e foi ela também que apresentou o mundo de uma centenária a ele.e
Todas as semanas Ona esperava por ele, ávida por novidades,
por saber o que mais o menino descobrira sobre as pessoas centenárias que
entravam para o livro dos recordes e agora eles estavam decidindo que ela
também deveria tentar. Mas então em um sábado diferente, quem apareceu foi
Quinn, o pai do garoto e não mais o garoto.
Quinn queria cumprir com o compromisso e dizer adeus para
tudo aquilo. Não sabia como lidar com a perda de um filho que não tinha
participado muito de sua vida, ou melhor, cujo pai não participara quase nada
de sua vida e do nada o menino se foi. O mínimo que podia fazer era terminar a
boa ação de escoteiro que ele começou. Aquela senhora parecia precisar de muita
coisa, ao mesmo tempo que não entendia o que realmente se passava, ou não sabia
o real motivo de o menino não estar de volta.
Aos poucos Quinn compreendeu que o menino havia entregado
parte de sua vida para aquela lendária vida e que a mesma estava extasiada por
uma oportunidade de conseguir chegar a uma meta e fazer sorrir um menino
gentil. O que Quinn não sabia é que sua vida mudaria com toda aquela
experiência. Através de Ona Vitkus ele vai aprender mais sobre seu filho, sobre
o que é amar e sobre o que é ter responsabilidades além do que se promete ter.
E Ona Vitkus vai mostrar para as pessoas que duvidam dela
que a história de uma vida longa pode ser infinita quando alguém está por perto
para incentivar a seguir adiante.
Autora: Monica Wood
Título Original: The One-in-a-Million-Boy
ISBN: 9788580416930
Páginas: 352
Ano: 2017
Gênero: Drama
Editora: Editora Arqueiro
Há livros que fico pensando muitos momentos sobre como
conseguir exprimir as expectativas colocadas na leitura e tudo o que consegui
retirar dela sem entregar todo o prêmio. Quando se lê o título da obra parece
que vamos conhecer sobre a vida de um menino que, como a sinopse explica,
morreu do nada, deixando um legado com uma senhora centenária.
A verdade é que muito pouco se é dito sobre o menino e mesmo
assim muita coisa é explicada e gerada deste papel. É como se somente através
de um sorrido alguém conseguisse declarar toda uma vida de sonhos e fantasias.
E foi o que basicamente Monica Wood fez com sua intenção ao escrever o livro.
Ona Vitkus é uma mulher que teve uma vida cheia de altos e
baixos. Não é uma senhora sem vida. Fugiu do seu país com seus pais e chegou em
um novo país sem saber absolutamente nada. Cresceu, casou, teve filhos,
conheceu todas as novas tecnologias e agora parece que só vê o tempo passar com
milhares de lembranças em sua mente. Aceita a ajuda das pessoas sem causar
grande rebuliço, mas mesmo assim ainda faz as próprias tarefas. É uma visão que
eu até penso que jamais chegarei um dia, ainda mais com uma pessoa de 104 anos.
O legal da personagem de Ona é que a tradução da experiência
de vida dela é absolutamente aquilo que vemos em algumas outras pessoas. O
medo, a coragem em algum momento, alguns arrependimentos. A diferente de tempos
e tempos, entre as guerras e o agora. E como cada geração tem um pensamento
diferente sobre a outra.
O menino e a senhora são inseridos na trama como um amor a
ser esmiuçado, a ser compartilhado aos poucos, a ser conhecido parte por parte
e é assim que a autora vai colocando. Em cada capítulo um pouco do que eles
compartilharam no pouco tempo que estiveram juntos. E então a aparição do pai
do menino. Acredito que a partir daí os sentimentos começam a se tornar mais
fortes. É como se para um houvesse um sentimento de culpa e cumprimento de
dever e para outro a necessidade da continuidade de algo.
Aos poucos aquilo que era para ser secundário, se torna a
primeira página idealista da autora e a amizade e o amor entre os personagens
vai se juntando em ideias e metas de vida. É quando você pensa que ninguém é
jovem demais ou velho demais para algo. Que atitudes por mais simples que sejam
podem salvar pessoas e momentos e nos sentir restituídos de arrependimentos.
O final é algo
arrebatador. È como se a autora enfim apunhalasse todo o seu mérito no peito do
leitor e conseguisse nos fazer derramar através das lágrimas aquilo que algum
dia deixamos de fazer por alguém. Um final digno de palmas. Um final que
certamente eu gostaria que fosse diferente pela forma como o personagem toma
seu rumo, mas como sabemos que o mundo e a vida fazem sua história.
No fim o que resta é a saudade de personagens que se
dedicaram uns aos outros, mas que também construíram pontes e destruíram suas
paredes. Uma obra que cura dores e faz pensar no presente e certamente no
futuro.